Subtítulo: Para pensar (n)a conjuntura do “Novo Tempo do Mundo” (Althusser, Arantes, Fisher, Freire).
- Código: PFIL-0021 PFIL-1121
- C.H: 60h Créditos: 04
- Semestre: 2022/2
- Linha de Pesquisa: Ética e Filosofia Política
- Horário: Quinta Feira – das 14:00 às 18:00
- Professor: Marco Rampazzo Bazzan
Ementa: Disciplina de recorte temático, histórico ou autoral no tocante à Filosofia Política.
Programa:
Nesta disciplina apresentaremos e debateremos o horizonte de pesquisa que orienta as atividades do Laboratório Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas Materialistas (acrônimo LPM, cadastrado como projeto de extensão N. 2410). A hipótese fundamental deste projeto é a consciência de estarmos vivenciando uma transição epocal comparável com a “época limiar” (Sattelzeit) que abriu a modernidade (cf. KOSELLECK). De fato, a série de crises e emergências sem solução de continuidade, que caracterizaram o início do século XXI provocaram transformações estruturais cujos efeitos questionam não apenas os fundamentos constitucionais das democracias ocidentais, mas também a pertinência, e progressiva “insignificância” (cf. CASTORIADIS) das categorias que herdamos da modernidade para pensar a política. Nesta perspectiva o horizonte de pesquisa do LPM é estudar nossa época como transição epocal sob três eixos fundamentais: as Semânticas, os Imaginários e as Práticas sociais a partir de realidades “periféricas”.
Nesta disciplina examinaremos basicamente os diagnósticos de Paulo Arantes, Mark Fisher e Paulo Freire no que dizem respeito a mudança epocal que estamos vivenciando. A perspectiva desde a qual estudaremos estes três diagnósticos decorre da tarefa para o pensamento materialista que, lendo Gramsci, Lenin, Maquiavel e Marx, Louis Althusser define como “pensar (n)a conjuntura”. Com esta base, levantaremos a questão da pertinência da “ditadura do proletariado” a partir de sua evanescência nos últimos 50 anos. Transformando-se, desde Marx até Mao, a Ditadura do proletariado indicou durante mais de um século o horizonte estratégico da transição ao comunismo.
Na década dos 70 Althusser registra tanto a crise do uso da expressão (e dos modelos organizacionais da III Internacional) quanto a imprescindibilidade do seu “conceito” para orientar
as lutas políticas e sociais.
Para entendermos a dimensão epocal da transição que vivenciamos hoje examinaremos “O Novo tempo do mundo” de Paulo Arantes (2014) focando nossa atenção em seu diálogo com Reinhart Koselleck por um lado, e com Immanuel Wallerstein e Giovanni Arrighi, pelo outro. Destarte não colocaremos apenas a questão do “novo tempo do mundo” como transição (sem expectativa progressista), mas definiremos também nosso ponto de vista neste processo como sendo ele histórica e geograficamente “periférico”.
Desde esta perspectiva “periférica” examinaremos o diagnóstico de Mark Fisher. A este respeito, o ponto de partida será Acid Communism. Unfinished introduction na medida em que o autor coloca a questão da dimensão epocal do Golpe de Estado de 1973 no Chile, ressuscitando a exorcização do “espírito de um mundo que podia ser livre” (MARCUSE) como espectro da expectativa emancipadora que seria negada pelo “Realismo Capitalista”. Com base no diagnóstico de Fisher introduziremos a questão da esperança e da perspectiva progressista contra a resignação nos últimos trabalhos de Paulo Freire, ressaltando a radicalização política que o pensador brasileiro vivenciou durante seu exilio no Chile (Pedagogia da Esperança) lendo Frantz Fanon e Albert Memmi, por um lado, e a atualidade e centralidade da questão da “sintonização”, ou “conexão sentimental” (GRAMSCI) entre intelectuais, educadores e dirigentes políticos com o povo na Pedagogia do Oprimido pelo outro.
Assumindo com Freire o Sul (periférico) como orientação de nosso “pensamento (n)a conjuntura do novo tempo do mundo” trataremos finalmente de questionar a pertinência da categoria freiriana do “inédito-viável” como orientação na conjuntura presente e como possibilidade de olhar o futuro no passado, notadamente na experiencia de governo Allende no Chile e na política de Tomás Sankara no Burkina Faso. Nesta ótica colocaremos em diálogo o discurso sobre a dívida que Sankara pronunciou na OUA em 27 de julho de 1987 (e que, desde então, ganhou novas “periferias” onde
ser ouvida e entendida), com a assim chamada “doutrina Allende”…
Referências Bibliográficas:
- ALLENDE, Salvador. Salvador Allende: pensamiento y acción. Coordinado por Frida Modak – 1.ª ed. – Buenos Aires: Lumen / FLACSO-Brasil / CLACSO, 2008.
- ALTHUSSER, Louis. Por Marx. Campinas: Unicamp, 2015.
- ALTHUSSER, L. La solitude de Machiavel. Paris: PUF, 1998.
- ALTHUSSER, Louis. Ecrits Philosophiques et Politiques. Paris ; IMEC, 1994. T. I e II.
- ALTHUSSER, Louis. Conferência sobre a ditadura do proletariado (1976). Lutas sociais. v. 18 n. 33 (2014) URL: https://revistas.pucsp.br/index.php/ls/article/view/25740
- ARANTES, Paulo. O novo tempo do mundo. São Paulo: Boitempo, 2014.
- ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de Janeiro/São Paulo, Contraponto/Unesp, 1996.
- ARRIGHI, Giovanni. A ilusão do desenvolvimento. Pétropolis: Vozes, 1998.
- BALIBAR, Etienne/ WALLERSTEIN, Immanuel Maurice. Raça, nação, classe: As identidades ambíguas. São Paulo: Boitempo, 2021.
- BALIBAR, Etienne. Verbete: “Dictature du proletariat”. In: Gerard BENGUSSAN; Georges LABICA. Dictionnaire critique du marxisme. Paris : PUF, 1998, pp. 323-332.
- CASTORIADIS, Cornelius. « Stopper la montée de l’insignifiance » Le Monde Displomatique, Août 1998, pp. 22-23. URL : https://www.monde- diplomatique.fr/1998/08/CASTORIADIS/3964
- DEBRAY, Régis. Entretiens avec Allende. Paris: Maspero, 1973.
- FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Lisboa: Ulisseia, 1965.
- FISHER, Mark. Realismo Capitalista. São Paulo: Autonomia Literaria, 2020.
- FISHER, Mark. Acid Communism (Unifished Introduction). BLACKOUT (poetry & politics) 2018. URL: https://my-blackout.com/2019/04/25/mark-fisher-acid-communism-unfinished-introduction/
- FREIRE, Paulo. A Pedagogia da Esperança. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2013.
- FREIRE, Paulo. A Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.
- GRAMSCI, Antônio. Cadernos do cárcere. 3. ed. -. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
- KOSELLECK, Reinhart. Futuro, Passado: contribuição a semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto/PUC Rio, 2006.
- LENIN, Vladimir Ilich. Estado e Revolução. São Paulo: Hucitec, 1978.
- MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização: Uma Interpretação Filosófica do Pensamento de Freud. Rio de Janiero: Zahar, 1975.
- MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.